WHG nasce sob modelo híbrido de gestão de fortunas
Casa fundada por ex-Credit Suisse reúne private, asset e DTVM, com meta de R$ 20 bilhões em ativos neste ano

Por Adriana Cotias — De São Paulo

(Valor Econômico | 9 de abril de 2021) – Quando saiu do comando da divisão internacional de gestão de riqueza do Credit Suisse no Brasil, no meio do ano passado, Marco Abrahão sabia que o caminho mais fácil seria criar um multi family office junto com o time que fazia a transição com ele. Em vez de olhar para o que fez na última década na liderança do mais bem sucedido grupo estrangeiro em private bank no país, a escolha foi partir para um formato híbrido que reúne gestão de fortunas, asset independente e DTVM.

O suporte para o plano veio com uma sociedade com a XP na WHG (de Wealth High Governance), em que a plataforma ficou com 49% do negócio. Numa estrutura de partnership, a equipe já conta com 60 profissionais, sendo um terço dedicado só a investimentos.

“O modelo [de gestão de fortunas] dos próximos 20 anos vai ser um pouco diferente em termos de formato, com private e asset independente. Nesse desenho, o sócio estratégico traz uma sinergia enorme porque é a maior instituição financeira em termos de produto e há um ganho de alavancagem por causa da tecnologia”, diz Abrahão, CEO da WHG. “O que percebi quando a estrutura ficou pronta é que a partnership funciona como um celeiro para atrair talentos. E também há um alinhamento com o cliente no longo prazo.”

Depois de mais de duas décadas no grupo suíço, Abrahão não abre se já há algum capital comprometido para a WHG. Mas baseado nos relacionamentos construídos ao longo do tempo, ele diz que a meta é fechar o ano com cerca de R$ 20 bilhões. O alvo são famílias que investem acima de R$ 20 milhões, fazendo o diagnóstico personalizado de cada grupo. “Esse é um investidor que já tem dinheiro, então a preservação do patrimônio e a discussão sobre a sucessão familiar é a principal conversa, a que leva mais tempo, não dá para pular diretamente para a fase de alocação.”

O executivo começou como estagiário na antiga Hedging-Griffo, em 1995, e, quando a corretora foi vendida para o Credit Suisse, em 2006, chegou a ser um dos maiores acionistas minoritários. Na liderança do private banking, entre 2009 e 2020, o volume administrado saiu da casa dos R$ 10 bilhões para ativos da ordem de R$ 250 bilhões. É essa história que ele pretende repetir, agora sob a premissa de juros estruturalmente baixos no Brasil. Mesmo com o ciclo de alta da Selic, a percepção é que o país não vai voltar a taxas na casa dos dois dígitos.

“Quando olho para a estrutura que a gente montou, o que está vindo pela frente e de onde veio a minha história, estamos preparados para ser top no ranking do mercado”, diz o executivo. Ele cita que o sócio estratégico foi importante para respaldar o projeto pensando no longo prazo. “Não queria ter a preocupação de qual é o break even [o ponto em que a operação começa a dar lucro]. Queria olhar para um ciclo de 25 anos, não dois ou três”, afirma. A XP permite ainda o alcance global e fica com a administração fiduciária dos fundos exclusivos da WHG.

Além de Abrahão, entre os principais nomes que embarcaram no projeto vale citar Tony Volpon, ex-Banco Central e UBS, como estrategista-chefe. Vindo do Credit Suisse, Eric Cardozo assumiu como executivo-chefe de operações. Andrew Reider, na liderança de investimentos na asset, e o economistachefe Fernando Fenolio saíram da equipe da Brasil Warrant Gestão de Investimentos, family office que administra os recursos da família Moreira Salles. Ambos tiveram passagem pela Verde e pelo Credit Suisse Hedging-Griffo.

Para completar o tripé operacional, falta ainda a licença do BC para a DTVM própria, chancela esperada para este trimestre. De acordo com Abrahão, essa estrutura é importante para a customizar produtos e ao mesmo tempo ganhar agilidade na hora da distribuição.

Na asset, o primeiro fundo será uma estratégia long bias com ações globais para suprir a baixa alocação do brasileiro em renda variável e também em ativos estrangeiros. Abrahão diz que apesar do forte movimento de redução de juros no Brasil desde 2016, o viés doméstico prevaleceu. Com o dólar nas alturas, diversificação internacional não quer dizer fechar câmbio a R$ 5,70 ou a R$ 5,80, já que é possível usar estruturas no mercado local.

A gestora vai ter ainda uma divisão de ativos ilíquidos, que vai buscar oportunidades em private equity e venture capital. Uma outra linha é a de fundos imobiliários, pensando alternativas em ativos logísticos, de renda comercial e eventualmente greenfield.

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